Durante muito tempo, a homossexualidade como a conhecemos hoje não existiu. Explica-se: homens e mulheres tinham relações com pessoas do mesmo sexo, mas não eram classificadas como homossexuais. Os atos homossexuais poderiam ser considerados, no máximo, atos pecaminosos, mas isto não era entendido como uma orientação, um estado permanente da pessoa.

Foi no século XIX que surgiu a palavra homossexualidade. Um médico cunhou o termo para defender a existência de indivíduos cuja orientação sexual se dava por pessoas do mesmo sexo de maneira permanente. Logo esta primeira intenção positiva de cunhar um termo que corresponde a vivências e desejos de uma parcela da população, passou a ser utilizada de maneira depreciativa. Homossexualismo tornou-se um diagnóstico que apontava o portador de um desvio, uma doença.

Inúmeras foram as tentativas de descobrir a causa da “doença do homossexualismo”. Várias pesquisas a respeito da composição, das dimensões dos órgãos dos homossexuais procuravam entender o que provocaria tal distúrbio. Vários tratamentos foram sugeridos.

Chegou-se a transplantar testículos de animais machos para “fabricar” hormônio masculino, já que, na época, o homossexual era visto quase que exclusivamente como efeminado. Além da área médica, muita literatura criminalística afirmava que os homossexuais tinham uma tendência maior para a malandragem, para o crime.

Esta visão tétrica só começou a ser transformada quando, por meio do movimento gay, os próprios homossexuais passaram a falar sobre si mesmos, a produzir um discurso sobre si. Não mais a medicina somente ou a polícia tinha algo a dizer sobre os gays, mas também estes tinham uma voz. Com isso foi aumentando o diálogo na sociedade a respeito desta questão e se desfazendo muitos preconceitos existentes.

Também a ciência avançou na questão. Até pouco tempo, a psicologia considerava a homossexualidade um distúrbio. A partir dos anos 1970, houve uma progressiva despatologização da homossexualidade, impulsionada pelo crescimento do movimento gay. Nos anos 1990, a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista de doenças. Organizações de médicos e de psicólogos declararam que a homossexualidade não é doença, nem distúrbio, nem perversão; e proibiram seus profissionais de colaborarem em serviços que propõem tratamento e cura das homossexualidades. Assim, algumas pessoas são homossexuais e o serão por toda a vida. As ciências as consideram como pessoas que têm uma orientação sexual minoritária, tão normal quanto a orientação heterossexual.

Há ainda muitos setores da sociedade que não aceitam a normalidade da orientação homossexual. É compreensível que isto aconteça, visto que as mudanças serem muito recentes. Desde que os conselhos de Psicologia retiraram a homossexualidade da lista de distúrbios psicológicos, é proibida qualquer iniciativa de reversão da homossexualidade, qualquer tipo de “tratamento psicológico”. Não há o que tratar. Uma pessoa gay pode até controlar seu desejo, sendo celibatária se assim desejar; mas não pode deixar de ser homossexual, de possuir esta orientação. É necessário integrar sua condição, harmonizando-a com sua visão de mundo e, se for crente, com sua fé.