“A prova de abertura do Vaticano para questões LGBT será o modo como estes temas serão abordados no Sínodo propriamente dito: jovens LGBT serão representados na Assembleia? Vozes que discordam das questões LGBT serão permitidas?”, escreve Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, em artigo publicado pelo NWM aqui, 20-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen para o IHU On-line (aqui).

Eis o texto.
O Vaticano atingiu três metas na sua evolução em direção a um maior diálogo com a comunidade LGBT.

No Instrumentum Laboris, um documento preparatório lançado em 19 de junho que estabelece a direção para o Sínodo dos Jovens que ocorrerá em Roma, o Vaticano usa pela primeira vez a sigla “LGBT” para descrever os indivíduos com diversas sexualidades e identidades de gênero. De modo similar a 2013, quando o Papa Francisco se tornou o primeiro Papa a usar a palavra “gay”, essa mudança de vocabulário sinaliza que os oficiais da Igreja estão começando a entender que eles têm que tratar as pessoas LGBT com simples respeito e se referir a eles com termos mais precisos.

Outro desenvolvimento significativo é o reconhecimento de que as pessoas LGBT têm um desejo de fazer parte da Igreja. Em uma seção o documento afirma: “alguns jovens LGBT… desejam se beneficiar com maior proximidade e se sentirem amparados pela Igreja”.

Este reconhecimento é uma mudança bem-vinda da retórica tradicional da hierarquia que sugere que as pessoas LGBT são contra a religião. Como o New Ways Ministry sabe depois de mais de 40 anos de trabalho pastoral com a comunidade LGBT, católicos LGBT têm uma profunda espiritualidade, muitas vezes forjada por notáveis jornadas para superar a rejeição, alienação e marginalização. Os católicos LGBT têm se mantido como uma parte da Igreja apesar das declarações e ações que os têm ofendido e os machucado.

Um terceiro desenvolvimento é que o documento mostra que as autoridades do Vaticano prestaram atenção às preocupações sobre questões LGBT que foram levantadas pela juventude na reunião pré-sinodal ocorrida em Roma no mês de março deste ano. Também foram ouvidas as preocupações em relação aos pontos de vista dos jovens do mundo inteiro, externadas on-line. No Instrumentum Laboris, o Vaticano reconhece que muitos jovens expressaram discordância com o ensinamento da Igreja sobre uma gama de temas sobre a sexualidade, incluindo a homossexualidade. Este aviso indica uma perspectiva realista por parte do Vaticano, ao contrário no Sínodo Sobre a Família de 2015, onde somente as pessoas que concordaram com o ensino de Igreja foram convidadas para falar aos bispos.

O New Ways Ministry acolhe com bons olhos estes desenvolvimentos e reza para que o Vaticano faça valer sua intrigante aprendizagem sobre a juventude e a realidade LGBT tendo uma discussão livre e aberta destas questões no Sínodo.

Enquanto estes três desenvolvimentos são bem-vindos, se deve notar que não há nada no novo documento que indique que o Vaticano está disposto a alterar a política da Igreja sobre questões LGBT. O mais próximo disso foi uma indicação da vontade de trabalhar no sentido de uma “comunidade aberta e acolhedora para com todos”. Esta abordagem pastoral é importante, mas as metas da Igreja não podem parar por aí.

A prova de abertura do Vaticano para questões LGBT será o modo como estes temas serão abordados no Sínodo propriamente dito: jovens LGBT serão representados na Assembleia? Vozes que discordam das questões LGBT serão permitidas? Se o Vaticano não promulgar tais mudanças no próximo Sínodo, a linguagem do Instrumentum Laboris vai ficar na história como uma hipocrisia — a qual a juventude é hábil em reconhecer.

O National Catholic Reporter observou que, na coletiva de imprensa na qual foi lançado o Instrumentum Laboris, o cardeal Lorenzo Baldisseri “disse que seu escritório decidiu fazer uso da sigla LGBT para se referir aos gays, porque os jovens da reunião jovens pré-sinodal de março usaram o termo e seu escritório foi ‘diligente’ sobre respeitar o trabalho dos jovens.”

Ainda, também temos que nos perguntar se este desenvolvimento pode ser possivelmente rastreado ao efeito que o livro do padre James Martin Building a Bridge (Construindo uma Ponte, em português) teve nas discussões da Igreja. Neste texto, que é baseado em uma palestra que Martin deu num evento do New Ways Ministry, o jesuíta pede aos líderes da Igreja, como sinal de respeito, usar o vocabulário da comunidade de auto-identificação LGBT:

“…. Respeito significa chamar a um grupo da maneira que ele pede para ser chamado…. Nomes são importantes. Assim, os líderes da Igreja são convidados a estarem atentos ao desígnio da Comunidade L.G.B.T. e deixar de usar frases como ‘aflitos com a atração pelo mesmo sexo’, que nenhuma pessoa L.G.B.T. que conheço usa. Até mesmo ‘pessoa homossexual,’ que parece excessivamente clínico para muitos. Eu não estou prescrevendo que nomes usar, embora gays e lésbicas, L.G.B.T. e L.G.B.T.Q. são os mais comuns. Estou dizendo que as pessoas têm o direito de se nomearem. Utilizar esses nomes faz parte do respeito.”

O livro de Martin tem sido elogiado pelos líderes da Igreja ao redor do globo, incluindo o cardeal Kevin Farrell, chefe do Dicastério do Vaticano para leigos, Família e Vida, que desempenha um papel significativo no Sínodo sobre a juventude. Na verdade, Farrell escreveu uma sinopse para a capa do livro.