Hoje, 17 de maio, é Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. A data, referência simbólica da luta pelos direitos LGBT por coincidir com o dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a homossexualidade como doença, vem celebrar a diversidade e marcar a luta contra todos os tipos de discriminação e violência – física, verbal ou psicológica – sofridas por pessoas LGBT. Trata-se de uma missão urgente especialmente no Brasil, um dos países que mais discrimina e mata pessoas LGBTs no mundo (mais informações aqui).  O número de suicídios entre adolescentes que se descobrem LGBT, e mesmo de adultos, também é elevado. “Eles chegam a esta atitude extrema por sentirem a hostilidade da própria família, da escola e da sociedade. Calcula-se que o índice de suicídio nesta população é cinco vezes maior que no restante. Toda esta hostilidade com inúmeras formas de discriminação, mesmo quando não leva à morte, traz frequentemente tristeza profunda ou depressão”, assinala Luís Correa Lima, SJ, em artigo publicado na revista Convergência, da Conferência dos Religiosos do Brasil, em março deste ano (o artigo pode ser lido gratuitamente aqui).

Porém, o combate à LGBTfobia é missão igualmente urgente na Igreja, onde  o sofrimento dos LGBT ainda é, em grande parte, ignorado ou silenciado. Pior, não são poucos os ambientes cristãos em que se disseminam a incompreensão e atitudes de exclusão e até hostilidade. O caso citado no vídeo acima, extraído do filme “Assim me diz a Bíblia” – que pode ser assistido na íntegra, gratuitamente, aqui – é um exemplo dramático. Outro é o filme “Orações para Bobby” (assista na íntegra, gratuitamente, aqui), que conta a história real de Mary Griffith, uma mãe presbiteriana arrependida de tentar curar o filho homossexual, que se matou por não suportar tamanho assédio moral. Como mostram esses dois casos, muitas vezes a LGBTfobia, sobretudo por medo e desconhecimento, começa dentro de casa; a esse respeito, vale a pena ler este breve texto sobre pais e mães de LGBT.

O artigo de Luis Correa Lima citado acima reúne outros exemplos ilustrativos de violência explícita ou velada sofrida por pessoas LGBT, inclusive dentro da Igreja. E nos adverte:

“Certa vez, o papa deu um conselho precioso: ‘é melhor ficar longe dos sacerdotes rígidos, eles mordem’. E não são só sacerdotes rígidos que causam dano a tantas pessoas, mas também movimentos religiosos e fiéis rigoristas. É preciso que os LGBT sejam protegidos de discursos tóxicos e práticas nocivas, como exorcismos ou orações de ‘cura e libertação’. Colégios, paróquias, movimentos, pastorais e obras sociais devem ser ambientes acolhedores e não hostis.

A Palavra de Deus, tirada de contexto e lida em perspectiva rigorista, torna-se palavra de morte, um instrumento diabólico. Daí vêm as ‘balas bíblicas’ disparadas impiedosamente contra homossexuais e transgêneros. O mesmo acontece com o ensinamento da Igreja.”

Mas o autor aponta também caminhos de enfrentamento e superação:

“a superação de discriminações e marginalização tem eco na pregação e no exemplo do papa Francisco. Ele convoca a Igreja a ir às periferias existenciais, ao encontro dos que sofrem com as diversas formas de injustiças, conflitos e carências, entrar no coração do drama das pessoas, compreender o seu ponto de vista para ajudá-las a viver melhor e reconhecer seu lugar na Igreja. O papa quer que o anúncio do amor salvífico de Deus preceda toda a obrigação moral e religiosa, curando as feridas e fazendo arder o coração, como o dos discípulos de Emaús que se encontraram com o Senhor ressuscitado. Para Francisco, o Evangelho convida antes de tudo a responder a Deus que nos ama e nos salva, reconhecendo-O nos outros e saindo de nós mesmos para buscar o bem de todos.”

Que não só neste 17 de maio, mas em todos os dias do ano, nós, cristãos, possamos estar atentos para combater e superar a violência e a discriminação sofrida por pessoas LGBT no mundo e na Igreja. E que o Espírito do Deus que é Pai e Mãe e que nos ama incondicionalmente possa soprar em nossos corações e em nossa Igreja, para que possamos contribuir para a construção de um mundo em que a diversidade e as diferenças sejam celebradas como riqueza e reflexo da beleza infinita de Deus. E que as bênçãos de Cristo e o amor de Maria nos animem em nossa caminhada.