Uma frase da pesquisadora, professora e escritora Edith Modesto resume bem a dificuldade dos pais em aceitar um caso de homossexualidade entre a sua prole: “quando o filho sai do armário, a mãe entra”. E foi exatamente essa experiência que Edith viveu quando o seu caçula lhe disse, chorando, que era homossexual.

“Naquela época, meu mundo caiu”, lembra. “Na maioria das vezes, a descoberta da homossexualidade de um filho é vivida como uma tragédia. Por isso, passei por um processo lento de aceitação”. Edith levou anos pesquisando sobre diversidade sexual, após descobrir que não sabia nada sobre o assunto, apesar de ser professora universitária (aposentada), mestra e doutora em Semiótica pela Universidade de São Paulo (USP).

Ela começou acompanhando fóruns de bate-papo na internet sobre homossexualidade. Por muito tempo, a vergonha a impediu de interagir nessas rodas de conversas virtuais; apenas lia os diálogos dos outros integrantes. “Tinha muito preconceito e associava homossexualismo a doença, safadeza, perversão, mas fui me surpreendendo ao ver como os participantes eram cultos, interessantes e com caráter”.

Até que Edith, de 68 anos, teve coragem de se apresentar para todos como uma mãe de gay, que estava apavorada com a descoberta. Ao saberem disso, os interlocutores virtuais ficaram extasiados com o fato de estarem diante de uma mãe que, pela primeira vez, tentava entender esse mundo. Eles a “adotaram” e alguns se tornaram seus amigos.

Após esse primeiro passo, muita coisa mudou. Edith acabou criando o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), iniciativa que já completou doze anos. No começo, ela investia pouco em divulgação, por causa da vergonha de se expor. Mas depois que a pesquisadora “saiu do armário”, a ONG cresceu e passou a oferecer grupo de ajuda mútua, orientação, palestras e materiais educativos, além de seminários para empresas, escolas, etc.

Em 2006, Edith lançou o livro “Vidas em Arco-Íris: Depoimento sobre a Homossexualidade” (Editora Record). A publicação traz entrevistas com homossexuais, por meio de um olhar não acadêmico do mundo gay. O trabalho foi desenvolvido durante dois anos, período em que foram gravadas mais de 200 fitas com relatos sobre os mais diversos assuntos relacionados ao tema.

– Foi a maneira que encontrei para dar a palavra a eles, para que as pessoas pudessem abandonar estereótipos e saber que a homossexualidade é natural, e não uma opção. Quero mostrar também como o preconceito “social” é tão cruel que até mesmo quem é homossexual tende a não se aceitar. Até se assumirem gays, as pessoas passam por um processo tão doloroso quanto os pais.

Sentir-se amado e receber apoio são os desejos de qualquer filho, sobretudo de um homossexual. Segundo Edith, há muitos casos de suicídio e uso de álcool e drogas por jovens homossexuais, cujos pais não aceitam a sua sexualidade. Por isso, o GPH procura oferecer “um ambiente seguro e acolhedor onde pais e mães possam trocar informações e experiências sobre seus filhos”.

Site: http://www.gph.org.br
E-mail: maes-de-homos@uol.com.br

(Livremente adaptado de matéria de Ciça Vallerio, publicada em 15/10/2006 no jornal Estado de S. Paulo, e baseado em informações contidas no site do GPH. De lá para cá, outros grupos de mães e pais de pessoas LGBT se formaram para apoiar seus filhos e filhas, como as Mães pela Igualdade e as Mães pela Diversidade, com atuação em diversos estados do Brasil.)